quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Clarice

 


Eu escrevi, e era um segredo. Eu não tinha que dizer pra ninguém e nesse momento eu não ia. Eu vi Clarice e ela disse que estava morta. Eu me senti morta também, entendi Clarice. Mas esse tempo todo eu estava morta querendo viver. Passei anos escrevendo sem terminar. Escrevia e terminava também, uns carocinhos que eu chamo de poeminha. 

Nesse ponto da minha morte eu nem lembro mais se em algum momento da vida eu terminei algo querendo terminar... Algo que não fosse caroço. Teve uns poemas e teve uns contos... Mas eu queria escrever um livro. Um livro todo, pensado pra ser livro. Eu escrevo, mas nunca escrevi um livro.

Parece que eu estava amarrada, que tinha esquecido que preciso escrever pra viver, e Clarice me lembrou. Tão cansada, tadinha. Presa no vídeo. Presa no vídeo pra sempre, e me libertou.

Escrevo por escrever finalmente... Não que precise fazer algo com o escrito. Parece que vi alguém do meu planeta: Era Clarice. Já me disseram antes que eu parecia com ela escrevendo. Achei que era mentira, logo eu? Não, não sou não. Eu nem escrevo. Eu leio. Vou ler Clarice.